sábado, 1 de dezembro de 2012

LIKE SOMEONE IN LOVE (França/Japão 2012)



Amar é inviável. Na Tóquio de Akiko há objetividade. Ela é uma estudante que precisa sobreviver, pagar aluguel, faculdade e recorre à atividade de acompanhante de luxo para seguir em frente. Recebe a missão de atender um cliente especial na noite em que sua avó está na cidade, ansiosa por um encontro, após ter deixado o marido doente no interior especialmente para visitá-la e conversar.

Está definido o conflito de Um Alguém Apaixonado. Conduzido pelo diretor iraniano Abbas Kiarostami, o longa apresenta vidas entre a necessidade imediata de ganhar dinheiro e o cultivo das relações chamadas verdadeiras. Entre o amar e as despesas, Akiko parece já ter escolhido um lado e o filme mostra os desdobramentos dramáticos dessa decisão pra ela, mas principalmente para os demais, sobre os quais o sofrimento e as consequências parecem estar amplificados. Ainda que seus olhos permaneçam assutados na maior parte do tempo, Akiko opta pela omissão, enquanto os outros personagens buscam desesperadamente afirmar carências e apegos.

Sobre o diretor fica transparente sua inclinação por carros. Não pelo lugar comum da engenharia, design e símbolo de poder, mas do carro como espaço de interação e intimidade. Uma paixão que deve render consideráveis economias orçamentárias em cenografia para a produção, entretanto, é nítido o esforço de Kiarostami para brincar simbolicamente - nada mais iraniano - com os reflexos nos vidros, espelhos e portas transformando o que seria estático num palco de analogias para vida em movimento ao mesmo tempo em que mostra que a riqueza estética dos fotogramas pode ser bem alimentada pelo detalhe de um detalhe.

Perceber uma autorreferência é inevitável: Abbas Kiarostami dirigiu Dez (Ten), um documentário (2002) onde mostrou a luta de uma mulher iraniana, Manis Akbari, em busca de uma vida com os mesmos direitos dos homens. O filme foi gravado inteiramente no carro de Manis e editado a partir da compilação das suas conversas reais com dez pessoas para quem costumava dar carona. Na ficção de Um Alguém Apaixonado, vale a pena perceber a conquista do ganho estético nessa opção pelo cenário em quatro rodas.

O filme tem o ritmo do cinema iraniano e uma forma particular de cultivar o suspense, portanto o ideal é escolher vê-lo naquele dia em que você não está exigindo velocidade para personagens, diálogos sagazes e presença de espírito em ebulição. Entretanto, Um Alguém Apaixonado tem um roteiro bem feito e cumpre sua missão de angustiar e remoer indefinidamente a culpa. Um filme completo, brincando com a expectativa do público desde aquilo que se especula antes de entrar na sala. Experimente: olhe o cartaz, leia as poucas linhas daquela sinopse impressa e depois reflita se ambos não contribuíram para temperar as surpresas comportamentais dos personagens, as descobertas e o tormento do real protagonista (veja o trailer)

FRASES MARCANTES:

“Sei que você não faria besteira.”

“Ele é terceiro dan de karatê.”

“De fato lembra um pouco, mas não é ela. Vamos nos casar.”

“Sou avô para ela assim como sou um avô para você.”

“(...) vou ficar aqui na estação em pé, na frente da estátua, vou te esperar até a última hora.”