sexta-feira, 20 de março de 2009

CONTROL (Inglaterra 2007)


Depressivo, autodestrutivo e epilético. A combinação presente no talento musical que o mundo conheceu como Ian Curtis - voz e alma da revolucionária banda Joy Division - é apresentada no início de Control (Controle) por meio de um mosaico de situações que vai destilando o comportamento e as percepções do jovem que cresceu na culturalmente insossa cidade de Macclesfield, nos arredores de Manchester, Inglaterra.

Sem lugar para expandir o seu potencial criativo, Ian (Sam Riley) foi se tornando um jovem introspectivo, indiferente diante do grito de crianças para que devolvesse a bola que escapou da brincadeira e passava próxima aos seus pés, assim como o "bom dia" diário do pai a cada retorno do colégio. Fazia do quarto o refúgio da vida sem cores que julgava levar, dialogando com as folhas de papel onde escrevia poesias, ou local para ouvir LPs de ídolos como David Bowie e Iggy Pop. Finalizado em preto e branco, o filme traduz a melancolia do protagonista mesmo depois sua entrada na banda Warsaw (Varsóvia), rebatizada para Joy Division (Divisão da Alegria) e sua rápida decolagem para o sucesso.

O cultivo do contexto histórico-musical da época transporta o espectador ao clima dos shows que ferviam a cena londrina, a exemplo da banda punk, Sex Pistols, expoente maior de uma época onde a atitude subjugava a qualidade musical, e do performático David Bowie & Spiders Mars, que representava a ruptura ao estilo punk-rock que abastecia o imaginário de Ian Curtis e uma legião de admiradores ávidos por outras experimentações sonoras. Tudo isso em curtos momentos servindo de cenários que testemunharam a convergência entre os futuros membros da banda e o empresário Rob Gretton.

Os últimos anos de Ian Curtis retratados no filme, mostram a vida de um ídolo que não suportou conviver com a bomba-relógio da epilepsia instalada dentro de si e que detonava o sentido de renascimento de cada fato que promovia reviravoltas positivas ou não da sua vida. A construção linear deixa a sensação de uma história rápida, assim como os quatro anos de existência da Joy Division, embora aditivada com algumas sequências longas expondo introspecção e as angústias vividas pelo vocalista que se tornou símbolo da angústia coletiva de uma geração.

Músicas de compasso insistente temperadas com guitarras, baixo e vocal sombrios. A trilha sonora evidencia o legado de uma banda que se tornou ícone da transição do rock com a fusão de texturas eletrônicas e a criatividade no uso de efeitos semi-artesanais como o chiado de sprays e sons de vidros estilhaçando (este último não colocado no filme).

Após a morte precoce de Ian Curtis, em 1980, os demais integrantes da banda fundaram o grupo New Order (Nova Ordem) que se consolidou como sucesso mundial nos anos 80 e 90. O filme é uma oportunidade para conhecer mais sobre a banda que influenciou uma geração seguinte de músicos bem sucedidos como Nine Inch Nails, Radiohead, Smashing Punpking, She Wants Revenge, Franz Ferdinand e The Killers. No Brasil, nada menos que a Legião Urbana, aliás, qualquer semelhança entre a performance de palco de Ian Curtis com Renato Russo não merece o rótulo de injustiça (veja o trailer).



FRASES MARCANTES

"Eu vivo da melhor forma possível, o futuro agora faz parte do meu passado".

"Você é minha, irrecuperavelmente minha".

"Pensei que ataque epilético fosse coisa de tantã".

"Você foi incrível, Ian! Arrebentou, mas me diga quem ganhou a luta dessa vez, o Ian ou o Ian"?

"Quando eu estou lá em cima do palco eles não entendem o quanto eu me dou e o quanto isso me afeta".

2 comentários:

Unknown disse...

Bela iniciativa. Parabéns pelo Blog!
Vou assistir com certeza.
:)

Luciana Domingues disse...

"Pensei que ataque epilético fosse coisa de tantã".

haha..adorei o texto Sr.

Quanto ao filme, é uma pena que terei que ver um dvd pirata que um amigo vai emprestar, porque ir ao Cinemark as 15h é praticamente impossível.

;) bjo querido!